terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Lídice diz que o PSB está no páreo da disputa à sucessão do governo na Bahia

Senadora Lídice da Mata
Aliada de primeira hora do governador Jaques Wagner, a senadora Lídice da Mata, num claro recado aos que buscam antecipar a sucessão do chefe do Executivo baiano, em especial ao PT, que não cansa de propagar que possui prioridade para encabeçar a chapa, diz esperar que não haja imposições na construção do processo. “Eu acho que a tradição do PT ultimamente tem sido esta, a de não abrir mão. Aliás, essa regra que o PT adotou está aí para ser contrariada pela vida. Ninguém pode colocar regras que sejam imposições que os outros não possam concordar no processo democrático”.
O seu partido, conforme ela, inclusive, está no páreo por possuir legitimidade. Segundo ela, “há uma disputa na área do desejo”. Mais além, a senadora não descartou o risco de divisão da base.
Também presidente estadual do PSB, Lídice evita fazer projeções sobre o posicionamento da sigla no que diz respeito à disputa presidencial e prefere não antecipar se o presidente nacional da sigla, Eduardo Campos, será candidato a presidente. 

Tribuna – Senadora, como a senhora está vendo esse processo de antecipação de 2014?
Lídice da Mata
 – Eu acho que é antecipação artificial, porque as coisas na política só acontecem no seu tempo certo e a precipitação leva a colher um fruto de vez, ou seja, antes de amadurecer. Cada coisa no seu tempo.
Tribuna – O nome da senhora está na disputa?
Lídice
 – Olha, não adianta dizer que não está. O meu partido está, o que não quer dizer antecipar o processo. Nós vamos dançar conforme a música. Se não se antecipa, nós também aguardamos. Se antecipa, nós também seremos obrigados a antecipar o nosso movimento.
Tribuna – A senhora, inclusive, já falou sobre o desejo de colocar o seu nome à disposição do partido e do projeto encabeçado pelo PT no estado.
Lídice
 – Sim, sim. Eu não faço nada sem que o governador saiba, seja informado disso.
Tribuna – Como a senhora vê, senadora, a imposição do PT de ser cabeça de chapa desse projeto, liderado pelo governador Wagner?
Lídice
 – Eu ainda não estou considerando essa imposição. Estou achando que há um desejo, que está na fase da disputa desse desejo. Espero que não haja uma imposição.
Tribuna – O senador Walter Pinheiro, dentro do PT, é o nome que consegue agregar mais, reunir mais apoios em torno dele?
Lídice 
– Isso eu não sei. Quem tem que responder essa pergunta é o PT.
Tribuna – E a disposição hoje do vice-governador Otto Alencar, ele pode ser alçado à condição de candidato?
Lídice 
– Claro. Não está eximido disso. Nem por nenhum partido, nem por nenhuma legislação. O mínimo que teria que acontecer é ele sair antes do governo. Se desincompatibilizar.
Tribuna – Conhecendo como a senhora conhece o PT, o partido pode abrir mão dessa primazia como eles mesmos falam ou poderá haver algum veto para algum integrante da base aliada?
Lídice
 – Rapaz, eu não sou uma especialista em PT, não. Eu acho que a tradição do PT ultimamente tem sido esta, a de não abrir mão. Aliás, essa regra que o PT adotou está aí para ser contrariada pela vida. Ninguém pode colocar regras que sejam imposições que os outros não possam concordar no processo democrático.
Tribuna – A gente sabe que falta muito tempo ainda para a eleição de 2014, mas há um risco de divisão da base do governador?
Lídice
 – Isso sempre existe. Há risco. É claro que o esforço do governador será justamente esse, de não dividir sua base, e o esforço das forças também é esse, o que não quer dizer que vai confiscar contra nenhum presidente ou a priori vai haver a divisão de qualquer forma. Isso é o que eu digo, na política, as coisas são como a vida. Quando as coisas acontecem de uma maneira amadurecida, melhor. Senão elas vêm com um nível de muita precipitação e termina disputando com o projeto de construção.
Tribuna – O governador vai conseguir liberar esse processo, dependendo da harmonia entre os partidos?
Lídice
 – O governador é o líder natural desse processo, tem dirigido corretamente até então e é isso que nós torcemos para que ele possa continuar exercendo, essa sua posição de liderança democrática.
Tribuna – Como a senhora avalia hoje o governo Jacques Wagner?
Lídice
 – Eu sou uma aliada, sou parte do governo Jacques Wagner, então eu só posso defendê-lo. Eu acho que o governo já deixa um legado muito importante para a Bahia. Tanto do ponto de vista da aplicação de uma metodologia nova para a realização da política na Bahia, democrática, com participação principalmente, com o rompimento com o método da perseguição como forma de defender e manter o poder. Isso é um mérito tão extraordinário da presença do governador Jaques Wagner no governo, que tem uma parte de responsabilidade das forças políticas que o acompanham, mas uma parte também é responsabilidade pessoal dele na manutenção desse método e no desenvolvimento dele. Isso foi uma coisa. E tem também grandes realizações para a Bahia, tanto no campo da infraestrutura, de dotar o estado de uma infraestrutura mais moderna – o que Wagner tem feito nas estradas da Bahia merece o aplauso da nossa população –, quanto na área social, novas políticas públicas que venham a introduzir em nosso estado. Portanto, o desafio de todos é fazer muito mais. É fazer avançar muito mais do que já foi feito.
Tribuna – Quais áreas a senhora acredita que deveriam receber uma atenção maior, deveriam ser potencializadas nesse último período do governo?
Lídice 
– Eu creio que nós estamos vivendo uma situação grave com a seca e o resultado da seca em nosso estado, então o tratamento, um olhar cada vez mais profundo e difuso, cada vez melhor que já foi dado, intensificar ainda mais o tratamento que já foi dado e o desenvolvimento dos recursos hídricos da Bahia, o abastecimento, a garantia do abastecimento para o nosso estado, para o pequeno agricultor, para a agricultura, para o grande agricultor, para o conjunto da população, o abastecimento para o consumo humano, para o consumo animal, para também a agricultura, essa é uma questão muito importante para o desenvolvimento da nossa terra, do ponto de vista de todas as consequências de termos tido uma seca muito prolongada e que atingiu 70% do nosso território e tem como consequência uma repercussão em todo o território do nosso estado. Intensificar, aprofundar as ações na área de educação, isso é desafio para todo Brasil, não apenas para a Bahia. Intensificar um programa radical de fortalecimento da educação em nosso estado. E investir mais ainda na infraestrutura e logística do estado para que ele cumpra o seu papel, o papel que já está colocado para ele, que ele vem desenvolvendo, de líder na região Nordeste.
Tribuna – A senhora é contra ou a favor da entrada de ex-prefeitos ou derrotados políticos na administração agora?
Lídice
 – Não é um problema de eu opinar. Isso é uma questão de análise do governador. Está em pauta além dessa questão de ser eleito ou não ser eleito. É o projeto que o governador quer e como ele quer conduzir. Eu não faço nenhuma observação de mérito sobre essa questão. Eu considero que é uma questão de análise pessoal do governador.
Tribuna – A chegada do prefeito ACM Neto à prefeitura de Salvador leva o governo a dar respostas mais céleres à sociedade?
Lídice
 – A presença de um opositor, digamos assim, de uma força que foi de oposição ao governador, certamente mantém a responsabilidade por ter, além de demonstrar a importância das ações do governo do estado para a nossa cidade, de demonstrar que essas ações serão feitas tendo como referência principal o bem-estar da população, o povo de Salvador e o povo da Bahia, e não levando em conta a legenda partidária do seu governante. Respeitar a posição do povo, que é essencial. A decisão do povo.
Tribuna – A senhora foi prefeita, a senhora foi perseguida em um outro momento pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Como a senhora vê a relação hoje harmoniosa entre o prefeito ACM Neto e o governador Jaques Wagner, que é do PT?
Lídice
 – Eu vejo com alegria. Não posso condenar o governador, que respeita a decisão do povo. E vejo como foi bom nós ganharmos a eleição, para demonstrarmos ao povo da Bahia que é possível fazer diferente. Eu vi, durante o período em que governei Salvador e que sofri, o que a cidade sofreu com as perseguições do ex-governador Antonio Carlos, e muita gente dizia que tinha que ser daquele jeito, que se não fosse daquele jeito não podia governar. Wagner está comprovando, está demonstrando que a democracia é o melhor caminho.
Tribuna – E qual a expectativa da senhora com relação a esse novo momento pelo qual a cidade de Salvador passa depois de oito anos do governo João Henrique?
Lídice
 – Eu espero que seja para melhorar a vida das pessoas. E isso exige decisão, exige coragem, exige contrariar interesses fortes, fortes interesses empresariais, para fazer valer os interesses públicos. E eu espero que o prefeito tenha condição de fazer isso. Em todos os níveis. Nas áreas de mobilidade urbana, do Carnaval, é preciso definir sempre o interesse público em primeiro lugar. Sem que isso signifique o impedimento dos interesses privados. Mas não dá para ter apenas o interesse privado colocado. O Carnaval é um flagrante exemplo disso. É preciso repensar o modelo de Carnaval. Não podemos ter um Carnaval que a cidade paga tudo de uma infraestrutura que os interesses privados, seja de blocos, seja de camarotes, se beneficiem enormemente e paguem muito pouco à cidade e à prefeitura. Então, é preciso rever esse modelo. Eu espero que o prefeito, eleito pela vontade do povo, sinta que é seu dever fazer essa mudança.
Tribuna – Qual a principal marca do projeto encabeçado pelo PT na Bahia?
Lídice 
– Pelo PT, eu não sei dizer. Pelo governo de Wagner, eu acho que é, como eu disse antes, a marca democrática, essa é uma referência fundamental. A Bahia se libertou, e se libertou para crescer e distribuir renda. Essa eu acho que é a marca que Wagner está deixando. Democratizar, ao meu ver, e distribuir renda. Nós tivemos no passado, falta de democracia e, até em algum nível, algum crescimento econômico sem distribuição de renda, sem integração de um projeto de melhoria das condições de vida da população.
Tribuna – Muito tem se falado sobre um possível lançamento da candidatura do presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. A senhora acredita que ele vai ser candidato?
Lídice
 – Não é uma questão de acreditar. Eduardo, como o partido, certamente está discutindo isso, tem legitimidade para fazer isso. E não passa de uma análise. Como eu disse, a imprensa e alguns muito interessados em criar dificuldades na base do governo, forçar a barra em algumas situações, ficam praticando um jogo e obrigando o presidente do PSB e governador Eduardo Campos de colocar a questão. Eduardo reafirmou que a prioridade de 2013 é o PSB ajudar os seus prefeitos a governar melhor e ajudar a presidente Dilma a fazer um grande governo.
Tribuna – Há algum risco de tensionamento e rompimento entre o PT e o PSB nacionalmente?
Lídice
 – Da nossa parte não.
Tribuna – Ele pode ser alçado à condição de vice da presidente Dilma?
Lídice
 – Eu não posso fazer uma análise de bola de cristal. No casamento, há risco de você em determinado momento ter um tensionamento e romper um casamento. Não existem mais casamentos eternos. Toda a situação da vida moderna leva a que as relações tenham certa relatividade. Não há nenhuma decisão do PSB de rompimento com o PT.
Tribuna – O governador Eduardo Campos pode ser alçado à condição de vice da presidente Dilma? A senhora defende isso?
Lídice 
– Isso é um exercício de futurologia. Não tenho como responder.
Tribuna – Uma hipótese de virtual candidatura dele, com certeza, obrigaria o PSB a formar uma chapa forte na Bahia, o que daria a entender que...
Lídice
 – (interrompendo) Isso é virtual, como você disse. Nós vamos ficar discutindo sinais. Sinais podemos ter diversos. Claro que uma eventual candidatura de Eduardo, se Eduardo for candidato. E se Eduardo for? É provável que o PSB seja obrigado a ter uma candidatura aqui. Mas ele pode não ser candidato. Pode existir e pode não existir uma candidatura aqui independente de Eduardo ser candidato. Não há a necessidade de amarração de todos os passos, muito menos a um ano e meio da eleição, quase dois anos da eleição.
Tribuna – Sobre a atuação da senhora no Senado, o que colocaria como o maior destaque da sua atuação, do trabalho que a senhora tem feito em Brasília?
Lídice
 – Cada ano reserva uma atividade nova para todos nós. Eu creio que este ano a minha atividade estará centrada em construir uma ação mais coletiva do PSB, enquanto líder do PSB, foi um trabalho vitorioso. Eu creio ter conseguido. A eleição da mesa do Senado foi uma posição de absoluta unidade do partido e eu ceio ter dado uma contribuição importante, como líder do partido, nessa conquista, e também creio que a minha relatoria na CPI do Tráfico de Pessoas, com uma proposta moderna e extremamente progressista para reorganização desse item no Código Penal, mas também para repensar uma política de enfrentamento do tráfico de pessoas no Brasil.
Tribuna – E destaque para a atuação da Bahia, o que a senhora consegue mostrar de resultado para a população? Investimentos, emendas...
Lídice
 – Tudo o que nós fazemos é para a população. Dotar o país de uma legislação melhor na defesa dos direitos humanos é também para a população. Vocês tentam colocar as coisas como separadas, como se fosse possível separar, digamos, material do imaterial. De concreto para a Bahia, nós temos lutado para trazer benefícios para a Bahia. E trouxemos diversos, quando nós aprovamos os empréstimos da Bahia no Senado, quando representamos a Bahia no Senado, quando discutimos uma mudança na legislação do ICMS, que está proposta e ainda não foi votada, foi decidido avançar neste ano. Defendendo a manutenção e a preservação dos interesses da Bahia, quando discutimos um projeto de Fundo de Participação dos Estados, garantindo os interesses da Bahia, estando defendendo os interesse da Bahia, como o relatório feito pelo senador Pinheiro [Walter Pinheiro]. Estamos defendendo. Não foi possível votar. Se, infelizmente, o Senado não conseguiu cumprir as suas metas no ano passado, esperamos que este ano, nós possamos fazer mais. E o acompanhamento de todos os interesses de nossos prefeitos, que tem no meu gabinete uma porta aberta para as suas reivindicações e acompanhamento de seus pleitos. As emendas parlamentares conquistadas, a discussão do orçamento da União, visando garantir os interesses da Bahia, também nesse orçamento.

Tribuna – O ano de 2013 começou intenso, mas tem muita gente que diz que ele começa depois do Carnaval. Qual vai ser o maior desafio para a senhora este ano?
Lídice
 – O que se diz é que é o início político.Não dá para precipitar as coisas. Este ano não é um ano de se decidir candidatura imediatamente. Todo ano político é intenso. Todos os anos há novidade na política, há um tipo de ação na política. A política trata de ações da vida das pessoas. Nós temos uma enorme agenda para tratar. E isso leva a que os políticos se organizem para tratar dessa agenda. Este ano é um ano de trabalhar os resultados das conquistas realizadas de 2012, no apoio às prefeituras, no fortalecimento das administrações municipais e prospectar o futuro. Trabalhar nas alianças regionais, as alianças essenciais para a construção de projetos políticos eleitorais.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte