A senadora Lídice da Mata declarou-se candidata ao governo da Bahia e o fez pela primeira vez, ontem, em entrevista à rádio Tudo FM, depois de diversas vezes, negar que pretendesse disputar. A senadora claramente afirmou que não se pode imaginar no Brasil num sistema de partido único, nem bipartidário, como nos Estado Unidos. Daí porque seu nome está posto, como deve acontecer no republicanismo. Diz ter razões para assim fazê-lo: “o poder mão pode ficar restrito ao PT tão-somente. É necessário que haja alternância no governo, fator que enriquece a democracia”.
Trata-se de um quadro de projeção e brilho do PSB, legenda presidida nacionalmente pelo governador pernambucano Eduardo Campos, ele próprio possível candidato à Presidência da República, a depender das circunstâncias políticas em 2014. O PSB é um dos partidos que compõe a base do governo Dilma Rousseff. Aqui, apóia o governo Jaques Wagner. Mesmo sendo da base, Campos jamais declarou se seria, ou não, candidato. Se não o for em 2014, fatalmente o será em 2018. Tudo dependerá da situação em que a presidente Dilma Rousseff estiver. Daí o governador se resguardar.
Lídice da Mata tem inúmeros motivos para se lançar como pré-candidata. Primeiro, foi vereadora e prefeita de Salvador, deputada estadual e federal e, por fim, senadora, recebendo na Capital a maior votação dentre os candidatos. Tem ampla penetração no interior baiano. Se chegar ao governo da Bahia, será a primeira mulher a conquistar o cargo, que já foi disputado por ela, numa chapa composta apenas de mulheres, ela para o governo e Beth Wagner para o Senado. A votação da dupla surpreendeu.
A declaração da senadora apimenta o processo sucessório baiano, como mais um nome – e forte – no tabuleiro, com a vantagem de que não lhe será exigido disputa interna, como acontecerá no PT, por ser uma estrela do PSB baiano que compõe, com mais três senadoras, a representação do partido no Senado Federal. Se a sua decisão se concretizar será, seguramente, uma forte candidata pela sua trajetória política no Estado, a começar por Salvador, onde iniciou a sua atuação liderando um movimento contra o aumento dos coletivos na cidade, salvo engano.
Com Lídice no páreo, a situação ficará mais difícil para os petistas, onde três deles esgrimam para ser candidato - o chefe da Casa Civil, Rui Costa, o senador Walter Pinheiro e o secretário do Planejamento, José Sérgio Gabrielli. Sem declarar ainda que é –mas não há dúvida sobre isso – está também no páreo o vice-governador e presidente do PSD na Bahia, Otto Alencar, e mais – esse já declarado – o presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo, integrante do PDT. Os nanicos, ex-prefeitos de municípios da Região Metropolitana, esqueçam. Não têm chances, a não ser que haja um tsunami em pleno mar abrigado da Baía de Todos os Santos.
Precocemente ou não, percebe-se que 2014 está mais perto na área política do que se pensa. O governador Jaques Wagner considera que o segundo semestre deste ano é momento de decidir dentro do seu partido, mas convém lembrar que, para ocupar a sua posição e não correr o risco da campanha municipal anterior a do ano passado, o deputado Nelson Pelegrino se materializou muito antes como candidato a prefeito da cidade. Talvez porque no pleito que elegeu João Henrique para o segundo mandato, o atual senador Walter Pinheiro se apresentou e teve mais força dentro do PT para consolidar a sua candidatura.
Como a senadora não tem problema semelhante e como conta com o apoio integral, além do incentivo, de Eduardo Campos, o seu lançamento poderá se concretizar mais fácil. Faz parte do projeto do presidente nacional do PSB espraiar a força do seu partido por onde puder, principalmente no Nordeste, para consolidar a legenda que está em plena ascensão, não só na região com, também, no sul do País onde Eduardo Campos é bem visto. A começar por São Paulo, onde o PSDB envelhece e o PT só despontou no ano passado, com a eleição do pupilo de Lula, Fernando Haddad, que bateu o tucano José Serra à prefeitura paulistana.
Assim, há algo de novo na política baiana. Uma mulher. Se acontecer, será uma mudança e tanto a se comparar com a Bahia de uma década atrás.
*Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde desta quinta-feira (24).